segunda-feira, agosto 04, 2008

Sobre Leões e Cordeiros



“Crise é o desmoronamento de um sistema e a emergência de outro; um processo de destruição de valor que cria os fundamentos para o início de um novo ciclo.” Magnoli

É possível perceber que o sistema internacional passa por um momento de tensões políticas, econômicas, cultural; se não de valores. Momento de tensões que abandona os antigos “choques de civilizações” para cunhar um confronto de ideologias.

Entre cientistas políticos o significado da queda do muro de Berlim –falência de um sistema, o socialista –é um entendimento comum. Da mesma forma que o atentado de 11 de setembro simbolicamente delineou um novo ciclo na história das relações internacionais –confronto entre secularismo e fundamentalismo.

Nesses momentos a grande mídia aponta um novo mercado de filmes e produtos culturais, discutindo ou criticando a questão em cheque. “Leões e Cordeiros” dirigido por Robert Redford abarcou uma boa proposta de reflexão. O filme é uma análise simples, mas bem garibada da atualidade.

O enredo é uma construção crítica das questões mais discutidas nos últimos dois século– poder e dominação. Em parte, esse poder não se detém em mãos de um apenas, mas está na mutualidade e engajamento dos que possuem acesso ao grande público.

O presente como holograma entre passado e futuro, constrói um ambiente –de sim ou não –que afetarão sorrateiramente a construção da realidade.
Três instituições –o Estado, a Mídia e a Universidade. Engajadas em pensar, nesta ordem, a razão pela qual morrer, resistir e viver.

Um representante de estado interessado na auto-promoção, sob a mítica de “é nosso dever”, na ponta dos fuzis quer impor seu modelo político por meio de uma tentativa voluntariosa de reformar o mundo muçulmano.

Por outro lado, a mídia, considerada o quarto poder democrático, ao invés da análise e discernimento; consente, autentifica e, com voz muda, promove idéias em prol do mercado. A busca por audiência distancia o verdadeiro da realidade, proveniente de uma representação de fatos que mais tem a ver com conveniências ao comprometimento com a objetividade jornalística.

Robert Redford desenha não o que virá a ser a mídia, mas como as decisões já tomadas moldaram a mídia que vemos hoje.

Publicada na revista Times, uma pesquisa aplicada em universidades americanas, resultados denunciaram que os mais bem sucedidos alunos eram estrangeiros vindo de países subdesenvolvidos, ou termos resgatados pelo filme, paises de terceiro mundo. O que está acontecendo com o jovem americano.

O diálogo, entre o mestre e seu melhor aluno, despeja a esperança cansada da nova geração que opta por ser ausente as suas responsabilidades na construção de uma realidade diferente. Ausente das implicações da vida adulta, que sem respostas escolhe pelo não pensar. Enquanto aos que acreditam no futuro, os imigrantes, contrariando seus próprios valores, vêem na guerra um ideal pelo qual vale a pena morrer.

Você deve ter lido ou, alguns, lembrar das eleições nos EUA em 1973, na reeleição, Nixon não ofereceu ao povo americano ruas mais seguras, mais empregos ou fez com que os americanos sentissem mais satisfeitos com o seu país. O que Nixon usou em campanha para reeleição foi o projeto arquitetônico de uma nova “estrutura de paz” destinada a durar uma geração inteira.

Em momento de ruptura não se sabe ao certo o que virá –assim como “risco significa que mais coisas podem acontecer do que vão acontecer e não que alguma coisa dará errado."– Na crise não existe a certeza de que algo dará certo ou errado, simplesmente anuncia que o novo está para surgir.

Já passamos por muitas situações de ruptura, e nessas, ora obtivemos resultados positivos noutras nem tanto. Nas questões de relações internacionais, os resultados parecem óbvios, ademais tudo tem a ver com a perspectiva e cosmovisão de cada um –envolvidos e não.

Foi o nosso óbvio contra a da antiga União soviética, contra a da Indochina, contra a do Vietnã, contra a obviedade do Irã, hoje a luta é contra a de “Um” que não quer se dobrar, não que ser render diante dos tão almejados modelos ocidentais. “Um” que deseja ter sua própria forma de política, economia e de contratos internacionais.

Mas como lidar com a rejeição, é humilhante. A poderosa nação representante do mundo ocidental perdeu gradualmente seu poder. Hoje, a luta se afasta dos interesses meramente políticos e das relações econômicas internacionais –para se tornar uma questão de honra!

2 comentários:

Stefane disse...

Ótima análise.

Já tinha ouvido falar sobre esse filme, mas com essa análise que vc fez me deu até mais vontade de assisti-lo!

É...nossa sociedade está mesmo em crise, principalmente de valores. Não há mais limites pra nada, tudo se faz em nome do poder, do dinheiro.
E nós (humanidade) cada vez mais apáticos e individualistas.

Olhar para fora dói...e mais fácil continuar olhando pra nosso próprio umbigo.
Fazer algo realmente relevante pra sociedade não é facil, mas é possível.

Precisamos parar de nos comportar como se fosse impossível fazer algo pra mudar esse planeta por mais romântico e ideológico que isso possa "soar"!
Estamos tão desacreditados que simplismente nçao temos mais esperança.

Que Deus renove a nossa esperança nEle.

PS: Saudades imensas! Vc continua arrazando nos seus textos!
bjaoo
Que Deus nos abençõe.

Anônimo disse...

Mas afinal, qual a razão para viver, lutar, resistir e morrer ? (de acordo com o filme)

Obs: Otima analise !